Fala pessoal! É com imenso prazer que dou início a este blog. Um espaço que, com muito entusiasmo, venho reservar para debatermos e apresentarmos elementos da ciência geotécnica e da engenharia de fundações, contribuindo a esse projeto com a parceria de sempre dos amigos e sócios, engenheiros Yuri Frazão e Luciano Reis.
E pra iniciarmos os nossos estudos, trago um questionamento que, infelizmente, ainda demanda energia da comunidade técnica para discuti-lo, mas que convenhamos, já deveria ser causa ganha no pensamento de toda a sociedade:
Pra quê sondagem? Ainda existem dúvidas que investigar o subsolo é realmente importante?
Bom, para promover essa reflexão, trago uma passagem do livro Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de Fundações, de autoria dos engenheiros Fernando Schnaid e Edgar Odebrecht:
“A informação solicitada nem sempre é a informação necessária.
A informação necessária nem sempre pode ser obtida.
A informação obtida nem sempre é suficiente.
A informação suficiente nem sempre é economicamente viável”
A essa passagem conseguimos atribuir todo o universo da geotecnia e da engenharia de fundações. A verdade é que somos reféns de uma gigantesca gama de variáveis, bombardeados por elevados índices de incertezas, além de uma quase que cruel ausência de parâmetros e elementos fundamentais para tomadas de decisões aliada a uma cultural resistência na realização de ensaios para obtenção dos mesmos. Mas, não estamos aqui para apontar o dedo e buscar culpados, e sim fazer o nosso papel de informar e conscientizar.
Agora que você sabe as características do ambiente em que vive um engenheiro de fundações, ou qualquer outra área que possua como ator principal o solo, talvez esteja respondendo a si próprio, de forma quase que automática, a indagação feita anteriormente.
Toda obra de engenharia que esteja apoiada sobre um terreno, inevitavelmente necessita que o comportamento do solo seja devidamente avaliado, e se já é difícil determinar esse comportamento quando temos informações oriundas de uma investigação geotécnica, essa tarefa se torna impossível quando da sua ausência.
De forma a iniciar a nossa jornada no mundo da geotecnia, vamos primeiro apresentar o elemento principal de tudo isso: o solo.
De maneira geral, podemos definir o solo como um conjunto de partículas (minerais e orgânicas) distribuídas em água (ou outro líquido) com a presença (ou não) de ar nos espaços intermediários, conforme a figura 1.
Figura 1 – Constituição do solo
Diante dessa composição, tratemos apenas o fato de que as partículas sólidas estão “livres” para se movimentarem. Logo iremos concordar que o comportamento do solo depende de como ocorre esse movimento, que pode ser causado por exemplo pela aplicação de tensões, ou até mesmo pelo escoamento de água pelos seus vazios.
Nesse ponto do texto você já teve contato com duas (das diversas) variáveis que influenciam no comportamento mecânico do solo. Perceba que estamos falando de um leque de variáveis, nem entramos ainda nas particularidades do solo de acordo com seu grau de saturação, ou seja, o quanto de água temos ali.
E por que o solo é assim?
De maneira bem simples, nós não “fazemos” solo igual “fazemos” alguns materiais concordam?
Se pelo lado do concreto por exemplo, temos um grande controle e conhecimento do seu processo de “criação”, no caso do solo temos um produto criado pela natureza, onde boa parte do conhecimento está assentado no empirismo de experiências e vivências dos diversos pesquisadores ao longo dos anos.
A formação do solo, ilustrada na figura 2, resulta de um processo natural e demorado, mais especificamente pela ação do intemperismo sofrido por rochas ao longo de milhares de anos.
Figura 2 – Cronologia da formação do solo
Isso significa que o solo é um subproduto da rocha que o originou, podendo manter ou não uma nítida herança da rocha-mãe (iremos reservar um post para esse assunto).
Além da rocha de origem (r), fatores como ação de organismos vivos (org), clima (cl), fisiografia (fis) e tempo (t), também influenciam na formação e nas características do mesmo.
Matematicamente poderíamos escrever a formação do solo (s) como a seguinte função:
De volta ao questionamento inicial desse artigo, e diante de tantas variáveis aqui citadas que irão definir a formação e comportamento de cada tipo solo, será que nós, em pleno patamar que se encontra a engenharia atualmente (sei que ainda temos muito pela frente), deveríamos ainda gastar energia discutindo a importância da investigação geotécnica?
Bom, eu acho que não, mas infelizmente ainda é a realidade que vivemos.
Não irei estender o primeiro post, mas espero que aproveite reflexão. Convido-os a acompanhar as postagens que aqui se sucederão, pois iremos fazer uma bela caminhada no campo da geotecnia e da engenharia de fundações.
Um grande abraço, e até o próximo post