Muitos profissionais têm dificuldade em interpretar duas manifestações patológicas bastante comum, que na verdade são duas faces da mesma moeda: fissura em laje e o descolamento cerâmico em piso.
Antes de você continuar lendo, preciso alertar que essas duas manifestações não ocorrem única e exclusivamente por uma causa, pois na verdade elas podem ocorrer por inúmeras razões. O objetivo deste texto é apresentar o mecanismo da deformação excessiva da laje e suas possíveis consequências.
Bem, é sabido que a ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – apresenta os Estados-Limite de Serviços, sendo um deles o estado-limite de deformação. Basicamente a norma define critérios e limites que devem ser atendidos no dimensionamento para que a estrutura não deforme excessivamente.
A deformação da laje, seja ela causada por sobrecarga, erro construtivo ou subdimensionamento, provoca o surgimento de algumas manifestações, como fissuras e descolamento cerâmico.
Especificamente, sobre a deformação de uma laje, quero apresentar duas manifestações que podem ocorrer de forma coerente com o sentido da deformação. A fissura em laje e o descolamento do revestimento superior, são manifestações que acontecem por mais de um motivo, mas certamente a deformação demasiada favorece o surgimento destes problemas.
Quando temos uma flecha excessiva em uma laje, sabe-se que esta estrutura está submetida à duas tensões básicas: compressão e tração. Isso ocorre devido a flexão, que tende a tracionar uma das faces e comprimir a outra.
Por essa razão iniciei afirmando que são duas faces da mesma moeda.
O fato é que a fissura sempre acontecerá onde há tração, pois conceitualmente as aberturas ocorrem devido a tendência de separação causadas por forças opostas, ou seja, a tração.
Se em uma face da laje, a tração provoca a fissuração do concreto, na outra face poderá ocorrer o descolamento do revestimento. Isso acontece, porque a compressão não provocará aberturas, no entanto essa tenção tende a unir os materiais, inserindo esforços que eles não são capazes de suportar, levando o descolamento do piso a ser um dos prognósticos possíveis dessa deformação.
A resistência dos materiais nos ajuda a entender por meio do gráfico de momento fletor. O momento positivo apresenta tração nas fibras inferiores e compressão nas superiores. Já o momento negativo, a tração ocorre nas fibras superiores e a compressão nas inferiores. Com esse conhecimento e com uma boa interpretação dos gráficos e da concepção estrutural, podemos identificar os pontos onde haverá tendência de fissuração e os que tenderão a descolar o revestimento superior.
É verdade que materiais, técnicas e elementos construtivos como argamassa colante com bom desempenho, dupla colagem de cerâmica, juntas de assentamento e estruturais, tendem a evitar que estes problemas aconteçam. No entanto, estes não são pensados para o caso de super deformação das lajes, e assim esses elementos construtivos são capazes de absorver a compressão dos materiais até determinado limite. Havendo uma deformação excessiva esses elementos não suportarão e o revestimento poderá descolar.
Ressalvo que o descolamento cerâmico pode ser causado por diversos outros fatores, ou a soma deles. A exemplo, é comum termos descolamento em piso devido à EPU (expansão por umidade) da cerâmica, ou falha no assentamento das peças, ou mesmo devido ao uso de argamassa colante inadequada. Enfim, são várias razões que só podem ser identificadas com um bom serviço de diagnóstico.
Bem, para finalizar sintetizo de forma simples que ao se tratar de deformação de laje: onde há fissuras, há tração. E onde já descolamento há compressão.
Para melhor compreensão, assista o meu vídeo explicando e resumindo esse conteúdo. Aproveite e me siga no instagram @abbas.engenharia
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